quinta-feira, 15 de março de 2012

A Bandeira e o Pano




        Derry descobria a conjugação dos verbos na língua indígena:
        -Me veja dois caipirinhas.
        Quando veio o drink, com o bagaço do limão mais fora do que dentro do copo, junto de um pedaço de gelo solitário de procedência duvidosa boiando no meio do líquido turvo e azedo, Half perguntou:
        -Whata fuck is that  shit, man?
        Derry procurava uma forma de explicar o porquê do desleixo atávico do povo exótico daquele país tropical.
        Todo mundo fazia as maiores merdas possíveis sem se dar conta, simplesmente porque ninguém, absolutamente ninguém, era capaz de planejar nada no mínimo a médio prazo, digamos uns cinco anos pra frente.
        Parecia impossível, mas maluco não era capaz de ter a mínima idéia de como estaria sua vida nem dali a cinco dias.
        Quem vinha de um lugar um pouquinho mais evoluído, percebia que as pessoas naquela cidade, embora babacas, eram enormemente ambiciosas, além de se acharem espertas pra caralho, ou seja: o tipo perfeito de gente para ser ludibriada:
        -What do you want?
        -Me dá o teu dinheiro que aí eu invisto num negócio porreta; dando prejuízo ou lucro é tudo teu, mas eu recebo independente do resultado: trinta por cento do montante inicial investido, o que no caso é um lucro pra você, se a carteira render três vezes mais que o juro bancário ao ano, o que é bem provável nesse caso! Dá só uma olhadinha o quanto rendeu esta carteira no mês passado...
        É assim que funciona esse país: maracutaia do começo ao fim.

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