quinta-feira, 22 de março de 2012

A Volta dos Zumbis




        Gostava de pisar na areia, de olhar para o horizonte. Passava muitas horas vendo as nuvens que mudavam de forma sempre.
        Aqui embaixo começava a ventar frio, um vento impregnado de maresia, com cheiro de folha e sal e peixe, avisando que vinha água, mas tanta água...
        Por exemplo, um minuto antes de chover, todo mundo estava aquecido, embora um vento gelado passasse através das ripinhas de que eram feitas as paredes:
        -Essas ripinhas a gente chama 'tintureira', e vai buscar no mangue.
        -Mas olha só agora que da fibra da palha do coqueiro não passa uma gota d'água!
        Segundos depois desabou a maior chuva, pegando alguns desprevenidos.
        Aqueles que não perceberam que a natureza sempre dá os sinais, o que torna o clima e outros fenômenos previsíveis.
        Portanto o caboco, que ria com os olhos pela simplicidade da vida, brincou que era feitiçaria:
        -E olha: conheço a Velha da casa ao lado de onde estás... Pois toma cuidado que de noite ela vira bicho ruim e chupa o sangue dos outros pelo dedão do pé, enquanto estão dormindo!
        -Sério, sumano,! E só vais perceber depois que a Velha for embora!
        -Ha ha h ah ah ha ha ha!!! Olha esses caras! Como se eu fosse idiota de acreditar nessas estórias de pescador!!! Ha ha ha ha ha ha haa...
                                               ...
        -Haaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!
        Escutou o grito num sonho, de quem estava do outro lado da Ilha, mas viu como se estivesse ao seu lado: o rapaz com uma expressão paralisada de terror, deitado numa rede atada no barracão do Índio.
        Embaixo dele a poça de sangue que tinha escorrido dos buracos que haviam no dedão de seu pé esquerdo, enquanto um risinho abafado tornava mais sombria a dor de quem foi amaldiçoado e tentava ferir os outros.

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