quarta-feira, 7 de março de 2012

Depois da Verdade




        O Rapaz e a Garota conversavam. Enquanto um assunto ia puxando o outro, eles se riam e se beijavam, mas depois ficavam sérios, e vinham as perguntas.
        Sempre nessas horas um deles se calava:
        -Mas do que a gente estava falando mesmo?
        Falavam sobre as outras pessoas; sobre substâncias alucinógenas ainda não inventadas; sobre depressão e o futuro da humanidade; sobre adicção e receitas culinárias; sobre livros que ninguém mais lia e filmes que ninguém mais assistia e o escambau ilustrado.
        Mas o Rapaz e a Garota realmente se gostavam, então tentavam descobrir o motivo.
        Ela procurava dentro de sua cabeça:
        "-Por que mesmo que eu fico com esse Rapaz?"
        Ele tentava entendê-la só no olhar:
        "-Por que será que essa Garota fica comigo?"
        E sentiam que ambos e nem ninguém tinha a resposta. As coisas pareciam acontecer sem propósito, aleatórias como se afogar num leito de rio milenar independente de saberes nadar. Quando nosso melhor amigo nos trai e começamos a sentir uma dor-de-dente lancinante, ou como num sonho, quando alguma folha cai.
        Feito o passado que não volta.
        O amor se transforma em ódio e novamente o mundo se mostra ao contrário.
        É como hoje ter tempo para fazer o que se gosta, quando a gente ainda não sabe do que gosta. Mas quando descobrir amanhã, aí então talvez já não sobre tempo pra mais nada.

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