quinta-feira, 1 de março de 2012

Meu Velho

     
        -Tanta coisa pra ser feita e agora parece que não temos mais tempo...
        -Que nada, ainda tens saúde, é isso que importa!
        Mas ambos sabiam que algo havia acontecido: o dia encolhera e perdera uma hora; haviam sugado suas forças; tinham acabado de acordar e agora entravam num pesadelo ou simplesmente existia uma espécie de conspiração em curso, talvez para sacaneá-los.
        Era como se houvesse uma pedra sobre sua cabeça, que esbugalhava-lhe os olhos e fazia aquela pressão insuportável em cima dos ombros, trincando-lhe os ossos do pescoço.
        Girando a cabeça via várias coisas: um barco passava navegando na direção da maré; o vento soprava e das folhas e dos bichos que fumavam cigarros de folha saía o cheiro que impregnava o ar, onde apareciam certas moças a divertir-se com uma garrafa de vinho que depois pareciam melancólicas olhando para o rio que se ia:
        -Por que nunca sabemos para onde vai tanta água, embora passe bem na nossa frente?
        -Talvez devêssemos fazer um certo tipo de esforço a que não estamos acostumados, se quiséramos realmente saber para onde tanta água vai. Mas deveríamos remar contra ou a favor da maré, como aquele barco dali?
        -Essa pergunta é muito tendenciosa, meu amigo; é claro que qualquer barco, não só aquele, deve aproveitar a força das águas e não ir contra elas!
        Mutas pessoas durante esse tempo apareceram e desapareceram. As poucas que merecem ser lembradas são aquelas que deixaram saudade. Na vida é possível topar com pessoas poucas mas boas:
        -Ha ha ha ha ha ha ha ha! Vocês hoje pagam a gelada!
        -Foi porque quem estava agarrando era o Fabinho, coitado, que só faltava virar o rabo pra bola!
        -Ha ha ah ah aha haha ha ha! Pior que nesse último gol ele realmente virou o rabo pra bola!
        Pessoal queria era só um motivo pra ficar sacaneando. Nesse dia foi o Fábio, substituindo o Leleco no time deles no gol, que frangou todas. Mas isso foi há muito tempo, duma época em que a gente ainda se reunia toda semana pra rolar uma pelota.

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