sábado, 31 de março de 2012

Os Cães Não Andam Para sempre



"Isto é natural e você sabe: a natureza não é normal."

        Nos encontramos de manhã e rodamos a cidade o dia inteiro. Ele ficou a maior parte do tempo calado, enquanto eu não parava de falar, o que era muito estranho da parte do meu amigo Charles:
        -Cara, estás com algum problema? Estou te enchendo o saco?
        -Por quê?
        -Pôrra, nunca te vi assim, tão sorumbático. Diz aí: o que foi que aconteceu contigo?
         -Nada demais...
        Pelo contrário, meu amigo estava passando por maus bocados: na opinião dele basicamente por falta de grana, embora eu achasse que ele não ia resolver nunca sua vida, nem com um milhão de dólares, se continuasse a se comportar daquele jeito.
        -Mas não quero saber dos teus conselhos, nem que sintas dó ou tenhas pena de mim. Se queres mesmo ajudar, prefiro que me ajudes com grana!
        Eu podia falar que não era por aí; que como das outras vezes, meu pobre amigo Charles ia acabar quebrando a cara, embora ele jurasse de pés juntos que tinha se tornado uma pessoa mais justa, sensata e ponderada como jamais havia sido; que do dia pra noite vislumbrara o caminho das pedras por onde deveria seguir para nunca mais tropeçar, em direção a um futuro brilhante.
        Olhei para seu rosto e não vi sinal de loucura em seus olhos, talvez um pouco de cansaço e umas rugas por causa do sol.
        Notei que esperava uma palavra de apoio, mas como eu não sabia mentir, apenas dei dois tapinhas em seu ombro:
        -É isso aí, Charles. Aposto que vais conseguir...

Nenhum comentário:

Postar um comentário