quarta-feira, 14 de março de 2012

A Hora do Credo



        A reza começava com um som ininteligível, ao mesmo tempo estranho e maravilhoso, e bastava fechar os olhos que logo todos conseguiam ouví-lo:
        -São pífanos!
        -São o bater das asas dos Anjos!
        -São as notas certas de um violino tocado pelo SAGRADO!!!
        E aos poucos, percebia-se que havia uma voz por entre os sons, e era ela que lhe dizia:
        "Viviam naquela casa pacificamente, até o momento em que começaram a pretender dizer a verdade, sem saber ao  certo as consequências que isso traria: em pouco  tempo, tornariam-se estranhos uns aos outros, e por incrível que pareça, por causa do excesso de intimidade.
        -Quem te deu o direito de entrar quando eu não estou e revirar as minhas coisas, sem o meu consentimento?
        -É mesmo, bonitinho? Não desconversa não, o que é isto daqui que eu encontrei debaixo da tua cama?
         A resposta foi muito pesada para ser reproduzida num texto de família, mas no final ele mandou ela enfiar aquilo naquele lugar e decidiu que era hora de ir embora novamente, daquela vez para nunca mais voltar.
Colocou algumas roupas na mochila e deixaria o resto daquelas porcarias por lá, no fundo não precisava de nada daquilo:
        -Que negócio é esse, estás ficando doido é? Aonde pensas que vais?
        Encarou o olhar dela durante vários segundos, mas não soube dizer o que sentia; talvez devido uma deficiência da linguagem ou pobreza de espírito.
        A única coisa que sabia é que havia decidido ir embora, mas não tinha-lhe raiva nem a desprezava; apenas era como se daquela vez não fosse com ele:
        -Vou embora mas é minha culpa, fique em paz."

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