Conheci um cara de apelido "Jirrá", que eu nem sei como se escreve, que vivia nas maiores maracutaias e transações ilícitas: era traficante mas gente-fina, descolador, escrunchador, arranjador, acochador e apontador do jogo-do-bicho:
-Pô, Jirrá, pra quê tudo isso?
-Pra quem quer ser flanelinha, só parando de meter o bicho!
Esqueci de dizer, ele era ex-presidiário, ex-assassino e ex-ladrão, mas costumava dizer que atualmente só trabalhava reparando carro:
-E ganho muito mais! Cinco 'real' cada carro desses...
-E se o dono dizer que a rua é pública e não quiser pagar, aí tu riscas o carro do cara?
-Eu risco é a cara dele com essa aqui ó! Ha ha ha ha ha ha ha ha ha!
E puxava da cintura uma faca tão comprida que mais parecia uma espada.
Definitivamente não tinha medo de ninguém, "porque já fui bandido, tá ligado?", seu único pavor era o de um dia a mulher o largar:
-Se não fosse por ela até hoje estaria no crime!
-Ou quem sabe morto...
-Pois é, mas agora tenho um serviço mais ou menos honesto, botei um barraco na invasão pra ela, sem luxo ou frescuras mas também não falta nada, e às vezes ela até me deixa tomar uma birita fumando unzinho.
A vida dele era meio estressante, como a de todo mundo, mas tinha seus bons momentos.
Jirrá se afastou e foi buscar uma manga que tinha caído na grama, quando voltou já tinha comido quase a metade:
-Olha, enquanto comias essa manga, aquele carro foi embora e não deixou teu dinheiro.
-Esquenta não, aquele figura ali me paga por mês.
-Ô vidinha descomplicada, né, seu Jirrá? Deixa eu ir embora então, uma boa reparada aí pra ti.
-Pra ti também, vá na paz.
Depois de um tempo fiquei pensando se não seria uma boa entrar pro ramo, com todas as vantagens de se trabalhar à sombra das mangueiras, com um pano encardido jogado nos ombros, mas lembrei que essa é uma área muito concorrida, todas as vagas que compensam o trabalho já foram loteadas entre os profissionais com mais tempo de praça.
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