sábado, 21 de janeiro de 2012

Como Fazemos Nós

        A gente sempre conversava temas banais, mas ao mesmo tempo sempre querendo dizer outra coisa. Então não seria mais fácil dizer o que queríamos verdadeiramente, de maneira franca, sem subterfúgios ou maldade ou terceiras e quartas intenções?
        -Mas por que tanto sofrimento? Se o problema é a pessoa, algo deve ser feito para mudar a pessoa...
        Eles dois na cama conversavam nus, ela contava dos problemas de sempre, ele se queixando da falta de tempo para viver, ambos sem compreender direito ainda o que é a vida; em que momentos dela estamos vivendo para nós mesmos e o motivo de se esforçar ao máximo naquelas horas em que por nossa própria escolha vivemos para os outros...
        -Mas me responde uma coisa: quando você diz que está vivendo para mim, isso inclui o quê precisamente?
        -Se em cada momento andando pela cidade ou no meio dos meus afazeres, ou esperando alguém  em algum lugar; se comendo ou se dormindo quando sonho com você;  todo instante da minha vida em que lembro da tua existência são minutos que te pertencem de todo coração. Pra mim em cada fim de canção vêm escrito junto o teu nome e são nesses momentos em que me sinto vivo.
        -E por que ainda esse sofrimento?
        Ele ficou parado pensando, olhando nos olhos dela que esperavam uma resposta. Muitas coisas passaram-lhe pela cabeça, tudo passou-lhe pela cabeça, todas as outras existências que por meio daquela relação estavam entrelaçadas debatiam-se em suas cordas, como num teatro de marionetes ou numa teia de aranha, e eles sabiam que infelizmente não havia como escapar disto.
        Ele permaneceu parado tanto tempo encarando-a, que ela perguntou: "E aí, qual é a tua?"
        -Eu me pergunto a mesma coisa às vezes e também não encontro resposta: o por quê desses momentos com regular frequência em que o sofrimento volta?

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