sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Um Novo Deserto

 "Se trago as mãos distantes do meu peito
 É que há distância entre intenção e gesto(...)"


        Estavam lá sentados na grama, à sombra das árvores, como se fosse o Outono ou qualquer uma das outras três estações que pelo menos por ali não existiam.
        Pareciam de alguma forma se esforçar por aparentar felicidade: comiam, bebiam, riam, mas mesmo sentados no chão sobre toalhas ou sacolas era como se não fizessem parte daquele cenário, como se a sujeira da terra e e seiva da grama não pudesse sujá-los; como se os insetos e as formigas não pudessem andar sobre as toalhas; como se não houvessem inúmeros outros animais por ali.
        Mas era como se fosse apenas uma sensação, como se nada daquilo realmente fosse verdade, pois caso tenha realmente acontecido, caso haja um reverso da medalha, talvez seja eu que não exista, e ao invés de um observador desatento seja apenas um dos animaizinhos que os pintores piedosos costumam botar nos quadros que retratam o nascimento de Jesus na manjedoura.
        Imagine algo tão distante no tempo e no espaço, mas que perdura até os dias de hoje e pode-se dizer que vai durar para sempre, e em como todos aqueles lugares estranhos a que chegamos em cidades igualmente estranhas, vendo as pessoas de cara amarrada e os jovens com olhar de tédio, e de alguma forma sentindo como se já estivéramos ali antes, algo familiar, mesmo assim aquela dúvida fica na nossa cabeça, embora isso seja obviamente impossível.
        Imagine topássemos com um pé-de-coelho ou ferradura ou trevo-de-quatro-folhas plantado no meio do asfalto e aquilo fosse tão absurdo quanto dizer que para fazer uma praia bonita precisa além do oceano enorme e coqueiros e um sol plantado no meio do azul do céu com nuvens brancas e o som de gaivotas ao fundo, é necessário também muita areia.

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